É bem fácil de se entender: a prova da UWC, eles deixaram que eu fizesse porque foi indicada por uma amiga da minha mãe. Mas o que eles diriam se eu falasse: "Ei, olha só! Achei uma outra oportunidade num site da internet! Que tal eu fazer mais essa prova, hein?" Certamente não deixariam. Pensariam que a prova era uma fraude, que eu seria sequestrada e roubada quando chegasse ao local indicado no site para fazê-la. Então, para convencê-los, eu fiz a coisa mais simples e mais óbvia do mundo: eu menti.
- Sabe, mãe - assim começava meu discurso. - O pessoal que não passou na prova da UWC indicou uma outra agência que oferece bolsa.
- Ah, é? - ela perguntou. Já se via que ela não estava muito empolgada com a ideia.
- É uma agência em Belo Horizonte. A prova é sábado que vem.
- Aham...
Mas apesar do desinteresse, minha mãe acabou se convencendo a deixar que eu fizesse a prova. Acho que, na verdade, ela ficou sem modos de dizer não, depois que eu entrei em contato com uma funcinária da agência de intercâmbio por e-mail, me inscrevi e mandei tudo que era necessário.
Então lá estava eu, no sábado seguinte, indo para Belo Horizonte e fazendo a prova. Dessa vez, havia aprendido a lição.Não estava tão confiante. Via isso como "apenas mais uma tentativa". Se eu passasse, ótimo. Se eu falhasse, seguiria com a vida.
Não demorou nem uma semana para que eu recebesse o telefonema mais feliz da minha vida. Foi na quarta-feira à tarde, quando me avisaram que eu havia sido a segunda colocada na prova da bolsa. Aí surgia mais um pequeno probleminha: a bolsa para o segundo colocado era para a Alemanha. E se tem uma coisa que eu não sei, é falar alemão. Mas no mesmo dia aconteceu algo que fez com que eu começasse a acreditar em destino. Ligaram novamente da agência, para dizer que o garoto que havia ficado em primeiro lugar na prova queria trocar comigo. Não precisei pensar muito para dizer que trocaria. E assim eu, a garota que poucos dias atrás chorava desesperadamente por não poder realizar seu sonho, me tornava a mais nova futura intercambista nos Estados Unidos.

Quem estava desesperado agora era minha mãe e meu pai, que, acho, não esperavam que eu fosse passar e ficaram meio em choque com o modo como tudo aconteceu tão rápido. Mal sabiam eles que ainda mais sufoco estaria por vir...
nossa, parabéns, que sonho espero que eu tenha a mesma oportunidade.